Rádio, rádio, rádio...
Só se escreve sobre rádio nesse blog, é?





Não tinha dez anos de idade. Passou-me uma coisa pela cabeça que me deixou felicíssima e ansiosa a esperar que anoitecesse. Quando todos estavam deitados e minha irmã dormiu, enfiei um rádio embaixo do travesseiro e liguei.

Onde colocar tamanha euforia? Era verdade! À noite o rádio também transmitia! Naquela noite começou minha vida descoberta e notívaga.

Que lembre o primeiro aparelho sonoro que tivemos foi uma rádio eletrola de madeira clara e elegante. Era um rádio comum de grande porte, como uma TV de 14 polegadas. Levantando-se uma tampa tinha-se acesso a eletrola. Nessa época eu era menor de cinco anos. E ouvia rádio.

Certa vez perguntei se a nossa era uma das melhores casas do ramo. Porque o moço no rádio disse que aquele disco encontrava-se à venda nas melhores casas do ramo.

O moço no rádio, sim. Achava que ele morava lá dentro. Na verdade gostaria muito. Creio que fui desencorajada nesta tese, mas ela me fazia bem. Eu queria olhar dentro do rádio.

Que tamanho teria se conseguia ficar lá dentro?

Quando Neil Sedaka cantava “Oh Carol!” sentia-me especial. Gostava de uns cantores, principalmente os bonitos. Achava Elvis muito triste, a moça que trabalhava em casa me contou a história dele, coitado.

Acabo de descer do banquinho que me utilizei para localizar “A voz de Natalino Otto”. Esse sim, o grande hit entre os De Veroli Chidiac no começo dos anos 60.

O disco é um semi LP, a capa poderia ser pior e é vermelha, assim como ficou o rosto de Natalino Otto. Quem é esse cara? Será que o tio Google conhece?

“A Voz de Natalino Otto” tem músicas esplêndidas, dentre elas “Maria Cristina” uma sátira sobre “o recente” costume das mulheres usarem calças compridas, uma música infantil que cantava a plenos pulmões (“Papaveri”) e “Vola Colomba” que fazia minha avó chorar. Eu fazia que não percebia porque ninguém me contara sobre a morte recente de meu avô, e fingia que não sabia.

Gostava de ouvir rádio no carro do meu pai. E fiquei fascinada pela linguagem dos locutores esportivos.

Daí a gostar de futebol foi um passo, digo, um passe, digo, um cabeceio. Artime. Amava esse cara. Toda vez que o Palmeiras jogava ele fazia um gol de cabeça. Acompanhava os jogos aos sábados, depois no meio da semana e depois minha irmã trocou de quarto porque precisava estudar e não conseguia dormir.

Um quarto só pra mim e um rádio só pra mim em baixo do travesseiro o dia e a noite inteiros. Até hoje nada me deixa mais tranqüila que deitar e ligar meu rádio estrategicamente colocado na cama. É deitar, meio que abraçando o radinho colado ao corpo e ZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz....

(fico intranqüila porque “tremo” na velha ortografia. É o dicionário do Office, sorry...).

Sei que os egípcios gostam muito de futebol. Nunca foi o caso do meu pai. Ele ficava assustadíssimo sempre que via um cabeceio. A reação era a mesma tsk, tsk, tsk fazia, num misto de reprovação e estupefação. Muito mais tarde li um artigo relatando possíveis seqüelas. Estamos todos bem, graças a Deus.

Aos onze anos era palmeirense e escrevia SEP em todos os lugares perguntando: você por acaso sabe o que é SEP? E enchia o peito: SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS!

Minha arrogância começou cedo.

Enquanto ouvia o jogo do Palmeiras, recebia informações, por outro repórter, sobre o jogo do Corinthians contra o Santos. Parece que o Santos não perdia do Corinthians há dez anos. E o Corinthians estreava uma das sensações brasileiras na época, Paulo Borges (Garrincha? Às vezes confundo, mas foi Paulo Borges).

Acho que Paulo Borges/Garrincha empatou o jogo e o Pacaembu foi ao delírio. Ouvi o relato do gol e o entusiasmo da torcida e fiquei impressionada.

Dias depois, assistindo um vídeo tape (sabendo o resultado) de um Corinthians e Internacional (alô Berquó!) depois de uma virada por três a um, não sei por que, comecei a chorar copiosamente.

Amor não tem hora. O Palmeiras que “abandonara” jogava com Eurico, Baldoqui, Zeca, Dudu, Ademir da Guia, César... E o Corinthians que estreava Rivelino jogava com ele e mais dez...

Em torno das 18 horas do domingo, quando os jogos terminavam, eu ia ao barzinho beber coca-cola. Tudo mentira. Gostava mesmo era de ouvir os comentários sobre os jogos, as gozações, as ofensas, voltava me rindo ou brava.

O Palmeiras estreou Leão e o Corinthians apresentou Ado. Lindos. E jogavam futebol! Ou melhor, Leão jogava, Ado foi um dos piores goleiros que vi. Na fase da fila que durou 22 anos, o Corinthians foi ao maracanã precisando de um empate e fez um gol logo no primeiro tempo. Dois perus marcados por Ado deram a classificação a finalíssima ao Botafogo...

Nas “balizas” defendidas por Leão nem ar passava. Ado até que não ia mal, só deixava passar a bola.



CORINTHIANS MINHA HISTÓRIA, MINHA VIDA, MEU AMOR!



Acordei pensando “é hoje o Corinthians será campeão invicto“.

Sai da cama feliz e desanimei. Não era hoje. Ainda era ontem. Tinha deitado para puxar um soninho e esquecera...

Amanhã é hoje!

E o Corinthians será campeão invicto, coisa que em 40 anos torcendo pra ele nunca vivenciei.

Quando vaticinei que Gornaldo faria três gols nas semifinais o Corinthians ganhou sem gols do fenômeno. Sem postar porque a página esteve em manutenção, Ronaldo Fenômeno fez dois no primeiro jogo da final.

Sequei o moço.

Ronaldo é gordo de predestinação, de talento, um homem gordo em sua determinação, em seu poder de superação, obeso em humildade e adiposo na arte de fazer delirar, fazer feliz e ser feliz com o futebol.

E as pessoas dizendo que ele “usa cinta”.

Né, Jovem Pan?

Caí nessa e reproduzi preconceito.

Ronaldo Fenômeno ajuda hoje a tornar o Corinthians campeão paulista invicto de 2009. Se Deus quiser Ronaldo Fenômeno também levanta a galera com o gol do título.


APOLOGIAS SÓ AOS DIREITOS!



Nada de apologia “ao cigarro”.

Apologia ao direito de fumar.

Andar, sair, subir, descer, voltar, namorar, viver sendo o que se é, e buscando de modo legítimo, ser feliz ora em pois.

A lei serrada é anticonstitucional. Porque fere o direito de ir e vir.

Você leu alguma coisa sobre isso????

Recebo há anos e-mails de amigos. Há para todos os gostos. Os denominados “mensagens” e “teologia” apagava pelo título. Até que encontrei sob essa característica, piadas sobre mensagens e teologia. E então só deleto quando tenho certeza que o assunto “é serio”.

Hoje descobri que vamos morrer em junho.

Meu Deus do céu! Fiquei oito, nove anos recebendo esses e-mails e só agora descobri que acabou nossa vida terrestre? Como não li isso antes?

Até junho tudo estará consumado.

Fiscais, tremeis! Sem fumantes a fiscalizar que será de vocês????

Governo! Troque os 500 novos bafômetros pelo equivalente em paçoquinhas!

Corinthansssssssssssssssssssss vai timãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaooooo!

Só tem esse!

Em meio aos e-mails estava escrito que os terremotos da Itália são apenas indício das transformações. Virão doenças estranhas que nada mais são do que nossos sítios, digo, chacras abertos, receptores da mudança interna e externa, para quem acreditar, convencer-se, só até sábado, digo, até junho.

Teremos fenômenos naturais jamais vistos e “temos de nos orgulhar, não temos de temer, afinal faremos parte do final e da nova era”.

Fomos escolhidos para presenciar o final dos tempos, e os escolhidos que tiverem fé verão o começo do novo tempo.


VAMÔFUMÁAAAAAAAAAAAAAAAÁAAAAAAAAAAAAAAAAAÁ!!



“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar (...) sentei no colo de quem não devia, beijei a boca de quem não conhecia...” (Assis Valente).

Nosso imenso Assis fez esta letra ironizando vindoura passagem de um cometa pela terra. A perspectiva mundial era de choque com o planeta, e claro, fatalidade.

Muito a seu estilo, ele tirou as palavras da caneta pos na pauta musical e foi mesmo um escândalo. O cometa passou, não houve explosão, e choque é saber que ninguém sabe quem foi Assis Valente.


INFOMANÍACA




Infomaníaca assumida tenho visto cada coisa na Internet que arrepio.

Agora resolvi responder.

O que me deu o pontapé para a revanche foi esse:


Uma relíquia, vale a pena ver e ouvir, Bar da Carmela, no Bexiga. Este é um DOCUMENTO HISTÓRICO e deve ser guardado como uma raridade: Ellis Regina era recém chegada de Porto Alegre, nos anos sessenta. Canta com Adoniran Barbosa, numa mesa de bar, uma música que ele acabara de compor para sua noiva IRACEMA, que morrera atropelada em plena Avenida São João, uma semana antes do seu casamento.
Pena é que a fotografia não é das melhores - A particularidade é que a maior parte das pessoas ignora que o samba nasceu do atropelamento da noiva do Adoniran.


Assim respondi a missiva:


“Esse e-mail é fictício. Elis conheceu Adoniran poucos anos antes de morrer, por um convite feito para o compositor participar de um especial de natal gravado e exibido pela TV Bandeirantes.

A imagem é da própria TV Bandeirantes e muitas vezes foi repetida na TV 2 Cultura.

Por sua vez, “Iracema” foi inspirada por uma matéria que Adoniran Barbosa leu no jornal, do mesmo modo que fez várias músicas, inclusive "Saudosa Maloca".

Esse e-mail é mais um que transmite falsa informação e tenho replicado com a história verdadeira, preservando nossa história cultural. Espero que a versão real siga para quem recebeu a errada.”



Não sei se a exposição vale à pena.

Sei. Vale.

Se meu filho recebesse esse e-mail e comentasse comigo era mais uma guerra em família. Ele e seus vinte anos teimariam comigo que é verdade porque leu num e-mail e eu diria que é mentira porque vivi a época.

E ele ficaria com a versão do e-mail.

A história só me faria justiça (e a Adoniran e Elis) caso a verdade se revele preferencialmente em e-mails.

Fico pensando que interesse tem uma pessoa em passar falsa informação. E em nossa falta de memória.

Há quem pergunte se Pelé jogou “mesmo” tudo aquilo. Não. Repetindo e afirmando Milton Neves, o jornalista do bem, Pelé jogou muito, muito mais que “aquilo”.

Maradona não jogou metade do que jogou Zico ou Rivelino. No nível dos jogadores brasileiros, Maradona foi um ótimo jogador. Como Roberto Dinamite.

Rivelino, Zico, Ronaldo Fenômeno são excepcionais. Pelé foi um jogador inimaginável. Só vendo. E as tecnologias atrasaram. Até à frente delas Pelé esteve.

Vai timão!

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